Fonte: SES
Fotos: Gilson Ferreira
Todos os dias a pediatra Angélica Veiga precisa tomar uma decisão importante antes de sair de casa para iniciar o atendimento aos seus pacientes: qual a melhor fantasia usar. Médica na ala pediátrica do Hospital da Ilha, em São Luís, Angélica deixou o tradicional jaleco branco de lado e passou a inovar no tratamento das crianças, atendendo os pequeninos vestida com fantasias de personagens do universo infantil, como super-heróis dos quadrinhos e princesas de contos de fadas.
“Para a criança aceitar melhor o tratamento, nós começamos a fazer esse trabalho com fantasias de heróis e princesas dos desenhos atuais; elas se divertem. É uma atividade lúdica que traz certa tranquilidade. Normalmente [com o uso das fantasias] as crianças aceitam o atendimento médico com mais facilidade do que quando se está de branco”, conta a pediatra.
Inaugurado em 2022 pelo Governo do Maranhão, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES) e gerenciado pela Empresa Maranhense de Serviços Hospitalares (EMSERH), o Hospital da Ilha comemorou no último mês de maio, um ano de funcionamento com a oferta de 46 leitos exclusivos para a pediatria. A unidade recebe pacientes encaminhados para atendimentos especializados de média e alta complexidades, como é o caso do menino José Pedro, 7 anos, de Amarante do Maranhão, município a cerca de 680 km da capital maranhense.
José Pedro foi internado no Hospital da Ilha após uma crise convulsiva que o deixou desacordado por dois dias. Internado em uma das enfermarias do setor pediátrico e longe da sua família, amigos e da sua cidade, o menino José Pedro só voltou a soltar a gargalhada quando viu a doutora Angélica fantasiada de jacaré, como relata a tia da criança, a lavradora Ana Paula Machado.
“As crianças ficaram muito alegres. José Pedro ainda não tinha soltado um sorriso do rosto dele, mas quando ela entrou na sala, ele ficou bastante feliz. Ela chegou fantasiada de jacaré e todos ficaram felizes quando a viram”, disse a tia de José Pedro.
A presença da doutora Angélica, fantasiada de personagens como Cinderela, Branca de Neve e o Homem-Aranha, também devolveu um pouco da alegria à pequena Isabela, 5 anos, que se recupera de uma grave crise asmática. A mãe de Isabela, a dona de casa Gleiciene Lopes, elogiou o tratamento humanizado que sua filha vem recebendo da médica.
“É uma iniciativa muito bonita. As crianças geralmente gostam disso, algo que chame a atenção delas e é o que a doutora Angélica está fazendo. Fica até melhor o tratamento da criança. Eu gostei muito, a Isabela e eu estamos muito satisfeitas por isso”, aponta.
Sorrisos, abraços e o carinho das crianças
Popular nos corredores do Hospital da Ilha e entre as crianças internadas, a médica Angélica Veiga ressalta que todo o esforço em preparar diariamente as fantasias, vem sendo recompensado na forma de sorrisos, abraços e muito carinho das crianças.
“É muito gratificante porque as crianças retribuem de forma imediata. Todos os dias elas perguntam: qual a fantasia que a doutora veio hoje? Essa expectativa traz sensações e até hormônios e substâncias internas da criança que fazem com que elas melhorem. Tudo isso é uma forma de ser adjuvante ao tratamento”, frisa a médica.
A atividade lúdica como proposta de atendimento médico humanizado é a causa maior de entidades sem fins lucrativos como os Doutores da Alegria – que inseriu a arte do palhaço no universo da saúde e inspirou a pediatra Angélica Veiga – e foi uma das metodologias adotadas pelo médico estadunidense Hunter Doherty “Patch” Adams, que, na década de 1970, propôs o uso da alegria para tratar pacientes e teve sua história narrada no filme “Patch Adams: o amor é contagioso” (EUA, 1998), dirigido pelo cineasta Tom Shadyac.
“Os pais ficam satisfeitos com o que é feito com seus filhos. Além do tratamento certo e especializado, ainda tem a parte das brincadeiras, que muitas vezes não é encontrada em hospitais, porque para muitos, o hospital é lembrado como um local de medo, solidão e frieza, mas aqui no Hospital da Ilha a gente não trabalha dessa forma”, afirma Angélica Veiga.
Medicina humanizada, melhora no prognóstico
Para o diretor clínico do Hospital da Ilha, Dimitrius Garbis, a doutora Angélica aplica um modelo de tratamento médico que humaniza o atendimento, aproxima o paciente e o familiar do processo de cura, gerando impacto positivo no quadro clínico da criança internada.
“Antigamente a gente tinha uma medicina onde ela era muito centrada na doença do paciente. Os estudos demonstram que a humanização do atendimento, o partilhamento do cuidado junto com o paciente, reduzem o tempo de internação, melhoram o prognóstico desses pacientes durante a internação. Os resultados são todos positivos”, avalia Dimitrius.
O trabalho desenvolvido pela pediatra Angélica Veiga também conquistou a admiração de outros profissionais de saúde que atuam no Hospital da Ilha, caso da fisioterapeuta Ana Lídia Gomes, que reconhece a importância de uma abordagem mais humana e emocional no tratamento das crianças em atendimento hospitalar.
“Nós temos crianças que já estão há meses internadas aqui. Imagina sair do seu ambiente, da sua família, dos seus irmãos e ficar confinado nesse ambiente. A doutora Angélica resgata o melhor dessa criança, traz uma alegria específica para essa criança”, opina a fisioterapeuta.
Sobre o hospital
O Hospital da Ilha fica localizado na Avenida São Luís Rei de França, no bairro Turu, em São Luís, e dispõe de um total de 214 leitos e a oferta de diversas especialidades, entre elas ortopedia, bucomaxilofacial, neurocirurgia, cirurgia torácica, cirurgia geral, ginecologia e gastroenterologia, além de exames de Raio X, ultrassonografia, tomografia, ressonância magnética, endoscopia e colonoscopia. A unidade recebe pacientes encaminhados para atendimentos especializados de média e alta complexidades.
Vanessa Karinne Selares Ribeiro Ferreira