Por Daucyana Castro
“Faço tudo pra ver ele feliz. Eu sei que ele tá feliz, nós temos uma conexão muito grande desde a hora que ele nasceu. O dia de hoje ficou marcado. Ele é meu raio de luz, o amor da minha vida”.
O depoimento emocionado em frente ao mar, na praia do Olho D´água, em São Luís, é de dona Francisca da Silva de Moura, 49 anos. Ela se refere ao filho, Gecivaldo da Silva de Moura, 16 anos. O garoto veio do município maranhense de Presidente Dutra com febre e pneumonia e chegou à São Luís com perda de movimentos. No Hospital Presidente Vargas, ele foi diagnosticado com Síndrome de Guillain Barré. Internado desde junho deste ano e com alta prevista para esta terça-feira (26), o garoto pediu para realizar um desejo: ver o mar pela primeira vez.
“Eu vivo em função dele. A gente sofreu um bocado, mas tô com uma vitória, ele tá se mexendo, tá bem graças a Deus. Eu sofri muito mas meu milagre tá ali”, comemorou a mãe.
O coordenador da Reabilitação do Hospital Presidente Vargas contou que a recuperação do paciente foi uma grande vitória e que realizar o sonho dele foi a forma encontrada para comemorar a alta.
“É um paciente que esteve muito ruim no quadro neurológico, com a Síndrome de Guillain Barré, que comprometeu todo o sistema nervoso e muscular do paciente. Ele passou muito tempo em ventilação mecânica, traqueostomizado, mas que conseguimos recuperar e hoje ele está falando e interagindo conosco. Para coroar essa vida, resolvemos trazê-lo para ver o mar, que era um desejo dele”, explicou Ubiraúna Correia da Penha Ferreira.
Para realizar o sonho do garoto, foi necessária toda uma estrutura para o passeio. O paciente foi transportado de ambulância do Hospital Presidente Vargas até o Centro Especializado de Reabilitação (CER) do Olho D´água, acompanhado de uma equipe multiprofissional composta por médico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e enfermeiro.
O mergulho foi possível em uma cadeira apropriada para acesso ao mar: a anfíbia. Cadeiras anfíbias têm rodas especiais que permitem o deslocamento na areia e no mar, cinto de segurança regulável, encosto, assento, apoio cervical para a cabeça e apoio para os pés.
“Além da parte emocional, com a melhora da autoestima e autonomia, esse contato com a natureza proporciona ao paciente o estímulo da questão sensorial mesmo, com o cheiro, o contato com a água, o visual. É o ambiente perfeito para a própria reabilitação” frisou a fisioterapeuta Renata Lima, que entrou no mar com o paciente.
Quando perguntado sobre o que mais gostou do passeio, Gecivaldo foi enfático. “Gostei do mar e do vento”.
O diretor administrativo do Hospital Presidente Vargas, Thiago Mendes Leite complementa que o atendimento humanizado faz toda a diferença no tratamento. “Realizar o desejo do Gecivaldo era possível. Mas foi preciso unir uma grande equipe para garantir a segurança e os cuidados que ele precisa. Diversos profissionais do Vargas se uniram para que tudo pudesse acontecer. A ação contou com o apoio da EMSERH e da Secretaria de Saúde. Eu acredito que tais práticas são fundamentais para o processo de recuperação, bem-estar e conforto dos pacientes”, finalizou.
SÍNDROME DE GUILLAIN BARRÉ
É um distúrbio autoimune, onde o sistema imunológico do próprio corpo ataca parte do sistema nervoso, que são os nervos que conectam o cérebro com outras partes do corpo. É geralmente provocado por um processo infeccioso anterior e manifesta fraqueza muscular, com redução ou ausência de reflexos.
Daucyana Castro