27 de setembro de 2024

Projeto realizado nas UPAs pretende captar mais doadores de órgãos no Maranhão

Com o objetivo de melhorar o canal de comunicação entre as unidades de saúde e a Central de Transplantes do Estado, a Empresa Maranhense de Serviços Hospitalares (EMSERH), lançou o projeto Notifica, Informa e Doa. As ações de sensibilização começaram neste mês de setembro em todas as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da capital e região metropolitana.

“É uma oportunidade para conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos e treinar também os profissionais de saúde no sentido de melhorar a identificação de potenciais doadores e, consequentemente, aumentar o número de doações. A doação de órgãos é uma forma de ajudar outras pessoas que estão sofrendo com problemas de saúde e que apresentam como solução o transplante”, frisou o presidente da EMSERH, Marcello Duailibe.

O Gerente de Certificação e Ensino em Saúde da EMSERH, Josafá Marins pontua que o projeto surgiu devido a necessidade de aumentar o número de notificações dos potenciais doadores de órgãos nas unidades. “Estamos fazendo neste primeiro momento esse movimento nas UPAs e esse trabalho deve ser expandido para os hospitais macrorregionais no interior do estado. Temos certeza que a partir deste projeto vai aumentar o número de doações, e consequentemente, mais vidas serão ajudadas”, disse.

O mês escolhido para dar o início à campanha é alusivo ao Setembro Verde, que trata da conscientização sobre a importância da doação de órgãos.  Os colaboradores estão sendo orientados a comunicar os óbitos ocorridos nas unidades para que essas informações possam chegar com a maior brevidade possível a Central de Transplantes do Estado. QR Codes estão sendo disponibilizados nas unidades de saúde para agilizar esse processo e a informação chegar de forma mais célere.

“Nosso movimento é com o objetivo da conscientização dentro das unidades sobre a importância da notificação, mostrar para todo o corpo de funcionários que essa informação é importante, não só para a assistência social e os médicos, mas que deve ser repassada por qualquer profissional a sua coordenação, garantindo assim que a central de transplante fique ciente daquele óbito o mais rápido possível”, frisou a supervisora do Ensino da Gerência de Certificação e Ensino em Saúde da EMSERH, Virgínia Lopes.

Segundo dados da Central de Transplantes do Estado, no primeiro semestre de 2024, apenas 26% das mortes nas Unidades de Pronto Atendimento existentes em São Luís foram notificadas. De janeiro a junho foram contabilizados 574 óbitos com apenas 148 notificações.

“Nossa sensibilização não é só no setembro, ocorre durante todo o ano. Sensibilizamos os profissionais de saúde, mas também a população em geral. É importante e necessário que todos tenham essa informação. Nós temos uma fila de córnea, por exemplo, de 700 pessoas. Enquanto o nosso vizinho estado do Ceará a fila é zero, aqui no Maranhão chega a demorar de 2 a 3 anos para que uma pessoa possa receber o transplante de córnea. Temos uma taxa de 70% de negativas familiares, mas isso está muito ligado a baixa notificação e não por ser um desejo da família, por isso esse trabalho de conscientização é importante”, reforçou a enfermeira da Central Estadual de Transplantes, Mara Moreira.

A enfermeira esclarece ainda que processo de doação de órgão é feito com muita ética, não há deformação do corpo, não há desrespeito. “No Brasil a autorização é dada pela família para doação de órgãos, então precisamos desse entendimento dos familiares”, concluiu.

Nos casos de morte por coração parado, podem ser doadas as córneas, na morte encefálica órgãos e tecidos podem ser doados. Um doador pode ajudar até nove vidas com órgãos, como com um coração, um fígado, dois pulmões, duas córneas, um pâncreas e dois rins.

As córneas do pai da Patrícia Costa foram doadas há 17 anos. Mesmo passado tanto tempo, a filha ainda lembra com emoção quando conversou com a mãe e ambas aceitaram doar as córneas do pai, após a confirmação da morte cerebral do pai.

“Não foi uma decisão fácil, minha mãe não queria, mas eu conversei com ela até que aceitou. Isso representa a continuação, de alguma forma da vida do meu pai, ele falava que os olhos eram a janela para o mundo, e de certa forma isso é a representação da continuidade da vida do meu pai, é um gesto de amor. E eu já comuniquei a minha mãe que caso eu venha falecer quero também ser doadora, tudo pela continuidade da vida”, relatou a pedagoga.

O Brasil possui o maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo.

No Maranhão, segundo dados do Ministério da Saúde, em 23 anos foram realizados apenas 3.572 transplantes. O órgão mais transplantado foi o Rim, com 759 transplantes e o menos transplantado foi o Fígado, com 17 procedimentos. A Córnea é o tecido mais transplantado, com 2.796 procedimentos. 

Daucyana Castro